quarta-feira, 28 de março de 2012

História: Captura II

Segunda parte da história postada anteriormente (e com isto não quer dizer que haja uma terceira...! :P).

Captura II

Enquanto tentava acompanhar o seu passo, sentia o meu corpo todo eléctrico. Era uma sensação como nunca antes tinha sentido. Toda eu tremia por dentro, de medo e ansiedade supunha eu, e ao mesmo tempo sentia-me percorrida por uma enorme adrenalina. Porquê? Não fazia ideia. Por agora apenas me conseguia focar naquela forma esguia e elegante que andava a passos largos à minha frente.

Desde o momento em que ela me tinha dito “segue-me”, com aqueles olhos hipnotizantes fixados em mim, que a minha mente tinha deixado de funcionar. Apenas reagia. Sentia-me como um cãozinho a seguir a pessoa que lhe tinha dado um osso. E não conseguia perceber porquê.

De repente ela parou, junto a uma máquina de tabaco. Pôs as moedas, escolheu, e só depois de recolher o seu maço, é que pareceu lembrar-se que eu lá estava. Olhou-me de alto a baixo mais uma vez, enquanto acendia um cigarro.

“Fumas?”

“Uhh…” hesitei, os meus olhos imensamente abertos. Ela riu-se levemente. “…não…”

Lentamente, ela aproximou-se de mim, a sua cara apenas a uns milímetros de distância da minha.

“Ainda bem,” disse, soprando o fumo do cigarro na minha cara. Soltou uma pequena gargalhada enquanto eu piscava os olhos e tossia levemente.

“Tenho-te observado,” disse de repente. O quê? Mas eu nunca a tinha visto antes…

“Tão simples, tão tímida… Qualquer um diria que talvez ainda fosses virgem…” Continuou, soltando desta vez uma enorme gargalhada e fazendo-me olhar em redor em embaraço.

“Mas eu não… Eu vejo-te.” Olhava-me fixamente agora, mantendo a minha atenção nela e só nela.

“Vejo o que escondes por trás desse aspecto… provinciano.” O sorriso de escárnio do comboio estava de volta, o que mais uma vez me fez engolir em seco.

Num piscar de olhos ela aproximou-se tanto que os nossos narizes quase se tocaram, e percorrendo um dedo comprido pela minha face, murmurou baixinho, mas a mim pareceu-me que o tinha dito alto e bom som…

“És uma pequena puta, não és?” Penso que não poderia ter corado mais do que aquilo que corei, a minha boca seca, a respiração acelerada. Não sabia o que fazer.

Mas não foi preciso. Agarrou-me o queixo e olhou fixamente para os meus olhos por uns momentos, soltando-me depois e dizendo enquanto se virava e continuava a andar:

“É melhor telefonares para o trabalho a avisar que não vais conseguir ir hoje…”

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